Clube de Ciências
Diário de Bordo
Bicho da goiaba, goiaba é?
(as moscas-das-frutas)
(as moscas-das-frutas)
Lucia Maria Paleari
lpaleari@ibb.unesp.br
Figura 1 - Goiaba e mosca-da-fruta Anastrepha sp.: (A) Fruto atacado; (B) Larva em meio à polpa; (C) Imagem ampliada da larva. |
No entanto, biologicamente falando, o ditado popular "Bicho de goiaba, goiaba é", não retrata a realidade. Vejamos o porquê.
O furo feito por uma mosca adulta, para depositar os ovos na goiaba, favorece a entrada de microrganismos que prejudicam a fruta, fazendo com que ela apodreça e caia. Ao cair, as larvas que se originaram dos ovos, e nesse momento já estão desenvolvidas, deixarão o fruto e migrarão para o interior do solo, onde passarão pela fase de pré-pupa, antes de atingir o estágio de pupa (Figura 2).
Figura 2 – Mosca-da-fruta Anastrepha sp.: (A) Pré-pupa e (B)
pupa.
|
Depois de diversos dias,
ainda no solo, o envoltório da pupa será rompido e dele emergirá uma mosca
adulta, como a que pode ser vista na figura 3, abaixo.
Moscas-das-frutas no Brasil
O gênero Anastrepha, composto por 94 espécies conhecidas de
moscas-das-frutas, é originário das Américas do Sul e Central. Juntas com a
espécie Ceratitis capitata, originária
do Mediterrâneo, preocupam muito aos fruticultores, por causarem grandes
prejuízos econômicos. Essas espécies de dípteros, assim como nós humanos, encontram
nas polpas suculentas de frutos como a goiaba, gabiroba, araçá, jabuticaba,
uvaia, cajá, uva, carambola, laranja, abiu e tantas outras, matéria e energia de que necessitam para viver.
Na figura 4, logo a seguir, pode-se ver um esquema do ciclo
de vida das moscas-das-frutas e de alguns outros insetos, como besouros, que
passam por metamorfose completa. Mais detalhes sobre ciclo de vida de insetos
podem ser vistos aqui.
O ciclo total de vida de moscas do gênero Anastrepha varia em torno de 25 a 40 dias, a depender da espécie, da fruta atacada e das condições de temperatura do lugar. Em geral, elas se desenvolvem melhor em locais que apresentam temperaturas em torno de 25°C. Se esse valor cair abaixo de 15°C ou for acima de 35°C, a mortalidade será grande. Como no Brasil as temperaturas oscilam dentro do intervalo mais favorável às moscas-das-frutas, elas têm condições de viver bem no país a maior parte do ano.
Uma Anastrepha pode depositar em torno de 400 ovos durante
sua vida adulta. Mesmo sabendo que parte desses ovos podem ser inviáveis, que
larvas e pupas podem adoecer e morrer, ou serem mortas devido ao ataque de seus
inimigos naturais, o potencial de ataque e destruição de frutas por moscas
desse gênero é grande. Além disso, no Brasil há inúmeras frutíferas produzindo
frutos em diferentes épocas do ano, o que favorece a manutenção das populações
dessas moscas.
Apesar de se tratar de um inseto pequeno e bonito, com
traços vistosos nas asas, as moscas-das-frutas são temidas pelos fruticultores.
E não é para menos, uma vez que elas podem ocasionar grandes perdas à produção.
No entanto, não se resolve um problema produzindo outro ainda maior, como
acontece quando se utiliza, principalmente de maneira abusiva, venenos
químicos, também conhecidos por agrotóxicos. Esses venenos que matam as moscas-das-frutas, também podem
nos matar, ou nos fazer adoecer gravemente, quando ingeridos com as frutas que
consumimos. É preciso investir constante e intensivamente em estudos para
desenvolvimento de práticas de controle eficientes, que deixem de lado o uso de
venenos químicos em pomares.
O ciclo total de vida de moscas do gênero Anastrepha varia em torno de 25 a 40 dias, a depender da espécie, da fruta atacada e das condições de temperatura do lugar. Em geral, elas se desenvolvem melhor em locais que apresentam temperaturas em torno de 25°C. Se esse valor cair abaixo de 15°C ou for acima de 35°C, a mortalidade será grande. Como no Brasil as temperaturas oscilam dentro do intervalo mais favorável às moscas-das-frutas, elas têm condições de viver bem no país a maior parte do ano.
No Estado de São Paulo já foram registradas 35 espécies de
Anastrepha, algumas das quais denominadas de monófagas, por se alimentarem de
frutos de uma única espécie de frutífera. Outras, por se restringirem a
frutíferas de um único gênero, foram denominadas de estenófagas (esteno =
estreito). As oligófagas (oligo = pouco) são espécies que podem consumir frutos
de alguns gêneros de plantas, mas pertencentes a uma mesma família de
frutíferas. Há ainda as polífagas (poli = muitos), que podem consumir frutos dos
mais variados, pertencentes a espécies de frutíferas de diferentes famílias.
Controle biológico
das moscas-das-frutas
Além do ensacamento das frutas com saquinhos de papel, que
impedem as moscas de ovipor, há também a possibilidade de fazer uso de seus
inimigos naturais. Tal prática, que recebeu o nome de controle biológico,
no Brasil e em toda a América do Sul ainda é insipiente. Trata-se de uma prática que precisa favorecer os inimigos
naturais, oferecendo-lhes alimento e abrigo, para que eles se estabeleçam nos
pomares e controlem o tamanho das populações de moscas-das-frutas. Para isso é
preciso cuidar de todo o ambiente onde estão as frutíferas, mantendo-o mais
próximo das condições em que normalmente essas plantas existiam antes de serem
plantadas em larga escala, como monoculturas, em terrenos desnudados e adubados
exclusivamente com adubos químicos, adubos esses produzidos em fábricas. É
preciso também, manter nos pomares outras espécies de plantas, num plantio
consorciado, ou seja, que misture diferentes espécies de vegetais. Nesse plantio consorciado podem ser
utilizadas inclusive plantas ruderais, comumente referidas por mato ou planta
daninha. Além das plantas ruderais poderem servir de abrigo aos inimigos
naturais, elas produzem pólen e néctar, que normalmente servem de alimentos a
eles. Para saber mais sobre a importância dessas plantas, acesse: Por que mato com tanto desprezo?
Algumas espécies de vespinhas, principalmente das famílias
Braconidae e Figitidae, são conhecidas como inimigos
naturais de moscas-das-frutas. Por serem também insetos, esses inimigos
naturais recebem o nome de parasitóides. Braconídeos podem colocar seus ovos
nas larvas das moscas, depois de localizarem-nas no interior dos frutos, mas os
parasitoides filhos só emergirão como adultos, quando as larvas utilizadas para
parasitismo estiverem na fase de pupa. Devido a essa característica
denominou-se, esse tipo de parasitismo, de parasitismo larvo-pupal.
Substâncias liberadas pelos frutos maduros atacados pelas
moscas-das-frutas podem atrair seus respectivos parasitoides, que, dessa forma,
terão certa facilidade para deixar a sua prole, os seus descendentes.
No vídeo abaixo, a vespinha pertencente à espécie
Diacasmimorpha longicaudata, detecta e parasita uma larva de mosca-da-fruta no
interior de uma maçã.
Embora sejam conhecidas diversas espécies de vespinhas
parasitoides de moscas-das-frutas, a espécie Diacasmimorpha longicaudata tem
sido muito estudada, por ser relativamente fácil de criar em laboratório, para
posterior liberação em pomares. Se além disso, for mantido alto grau de
diversidade biológica nas plantações, os indivíduos dessa espécie terão maiores
chances de se estabelecer nos pomares, sem a necessidade de liberações
repetidas, de adultos criados em laboratório.
Para você que cultiva frutíferas e quer saborear frutos
gostosos, bonitos e saudáveis, livres de agrotóxicos, veja esse tipo de
experiência adotado hoje por pessoas que buscam alimentação de boa qualidade:
Veja também o vídeo no qual a EMBRAPA apresenta as bases e vantagens de trabalhos integrados para controle biológico de espécies nocivas a plantações:
Veja também o vídeo no qual a EMBRAPA apresenta as bases e vantagens de trabalhos integrados para controle biológico de espécies nocivas a plantações:
Amplie o seu conhecimento:
- IAEA / NAIPC - Nuclear Aplications for Insects pest
Control - Galeria de imagens
- Video Documental de Moscas de la Fruta - Espanhol/Peru
Se você quiser saber mais sobre outras atividades do Clube de Ciências, da EMEF "Dr. João Maria de Araújo Jr.", de Botucatu acesse os links:
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