Diário de Bordo
Nossa, que frio!!!
Por Lucia Maria Paleari
Parece mentira, mas quem costuma nadar sabe que depois de um
mergulho é possível ficar roxo de frio e arrepiado, mesmo no verão. Você,
possivelmente, já deve ter passado por isso. Muitos dos integrantes do Clube de
Ciências, da EMEF “Dr. João Maria de Araújo Jr.”, de Botucatu, já. Aproveitando que estávamos estudando o comportamento da água,
investigamos esse fenômeno, que é muito importante para os seres vivos.
Para isso, mantivemos um termômetro suspenso no ar da sala
até a temperatura estabilizar. Depois, introduzimos o seu bulbo em um
recipiente com água e, em seguida, nós o retiramos de lá e acompanhamos o que
acontecia com a temperatura, enquanto a película de água, que ficara ao redor
do bulbo, evaporava. Não deu outra: a temperatura foi diminuindo. Depois
introduzimos o bulbo do termômetro em um recipiente com álcool, e o resultado
foi ainda mais impressionante, porque, como o álcool evapora rapidamente, a
temperatura indicada no termômetro imediatamente despencou.
Com o termômetro na altura dos olhos, Samuel faz a leitura da temperatura. |
Moral da história: toda vez que um líquido evapora, ele “rouba”
calor do ambiente onde está. No processo de evaporação de um líquido, as moléculas
mais agitadas, que se movem muito, portanto, possuem mais energia cinética são
as primeiras que escapam à atração das demais (força de coesão entre as
moléculas) e vão para o ar circundante. No caso da água ao redor do bulbo do termômetro,
as moléculas mais agitadas escaparam e se misturaram ao ar circundante (vapor)
e as menos agitadas foram as que ficaram na película de líquido ao redor do
bulbo. Dessa forma, o valor médio da energia cinética das moléculas ao redor do
bulbo ficou reduzido e, consequentemente, a temperatura também, por isso o
líquido esfriou. É essa medida da energia cinética média das moléculas, que os
termômetros registram e que denominamos de temperatura.
Agora dá para entender, porque quando as pessoas saem da
piscina sentem frio à medida que a fina camada de água sobre a pele vai evaporando,
não é?
Entre calor e frio intensos:
algumas estratégias de sobrevivência
Expostos às condições ambientais, que podem variar não só de
uma estação para outra, como ao longo dos dias, os seres vivos precisaram
desenvolver maneiras de conseguir manter a temperatura de seus corpos dentro de
certos intervalos, que são próprios de cada espécie, para que as reações
químicas necessárias para mantê-los vivos acontecessem sem problemas.
Uma das maneiras é semelhante ao que acontece conosco quando estivermos sentindo frio, após sairmos molhados de uma piscina. Certamente lançaremos mão de um comportamento
bastante comum: Buscaremos um lugar ensolarado para nos aquecermos. No inverno
também é comum encontrarmos pessoas ao sol, “lagarteando” como se costuma dizer.
E sabe por quê? Entre os lagartos esse comportamento é muito comum. Eles ficam ao sol, sempre que precisam se aquecer, porque, como animais ectotermos, dependem de fontes externas
de calor para manter a temperatura do corpo adequada. Eles dependem basicamente
de comportamentos especiais, como esse de se expor ao sol quando precisam de
calor, e de ficar à sombra ou em lugares frescos para evitar superaquecimento. Por
terem, em geral, temperaturas inconstantes, também são conhecidos por poiquilotermos (poikilos = variável).
Outra maneira de não se superaquecer é umedecer o corpo para esfriá-lo por meio da evaporação da água, como aconteceu com a película de líquido (água e álcool) aderida ao bulbo do termômetro ou com o nadador que saiu da piscina.
Outra maneira de não se superaquecer é umedecer o corpo para esfriá-lo por meio da evaporação da água, como aconteceu com a película de líquido (água e álcool) aderida ao bulbo do termômetro ou com o nadador que saiu da piscina.
No caso de animais, como a maioria dos mamíferos e aves
terrestres, o calor é gerado no interior dos seus corpos para mantê-los
aquecidos, razão de serem denominados endotermos.
Por conseguirem manter relativamente estáveis as respectivas temperaturas
corporais, ficaram conhecidos também por homeotermos.
Nestes casos, além de poderem realizar a termorregulação do corpo por meio de
comportamentos, como o fazem os ectotermos, (ex. ficar ao sol ou à sombra;
posicionar-se com mais área exposta ou menos área exposta), os animais contam
com mecanismos fisiológicos, portanto, próprios do funcionamento de seus
corpos.
Um exemplo disso, que acontece conosco e outros mamíferos, é o da contração e dilatação dos finos vasos sanguíneos
periféricos, chamados de capilares. Estes, quando contraídos reduzem sua
superfície e, dessa forma, também reduzem a perda de calor, calor esse gerado
nos tecidos do interior do corpo, e transportado pela corrente sanguínea. Quando
esses capilares se dilatam, no entanto, eles aumentam sua superfície e, com
isso, perdem mais do calor.
Suar é outra maneira dos corpos esfriarem por meio da
vaporização da água que é expelida do interior do corpo através dos poros.
Algumas invenções preciosas
Depois dessas investigações e explicações sobre o
comportamento dos líquidos ao evaporar, relatadas acima, pedi para que os
clubistas fossem observar o filtro de argila
da nossa sala e colocassem a mão sobre a superfície dele (veja a figura a
seguir).
Esse filtro, que possuí dois compartimentos, estava com água
acumulada apenas na parte inferior, porque os clubistas haviam se esquecido de
colocar água na parte superior para filtrar.
Ao tocarem o filtro, todos se espantaram com o que sentiram: a parte inferior, com a parede úmida, estava bem fresquinha, exatamente como a água que eles sempre bebiam. A parte superior, no entanto, estava mais quente e com a parede completamente seca.
Ao tocarem o filtro, todos se espantaram com o que sentiram: a parte inferior, com a parede úmida, estava bem fresquinha, exatamente como a água que eles sempre bebiam. A parte superior, no entanto, estava mais quente e com a parede completamente seca.
Tenho certeza de que você que está lendo este relato já
matou a charada do que estava acontecendo no filtro da nossa sala. Pois é, a argila, material de que é feito esse tipo de
filtro e também as moringas (figura a seguir), têm, entre seus grãos, poros bem
minúsculos, que nada mais são do que buraquinhos, nos quais a água tem
dificuldade para entrar. Da mesma forma, a água que penetrou nos poros tem
dificuldade também para sair. Não fosse assim, a água não ficaria armazenada
por longo período de tempo nesses recipientes. Ao sair pelos poros, a água vai
evaporando lentamente e, da mesma forma que aconteceu com a película de água no
bulbo do termômetro, as moléculas mais agitadas escapam antes, “roubando” calor
da moringa, portanto, esfriando a água.
Nas lavouras, por esse Brasil afora, sob o calor de dias
ensolarados e trabalho intenso, as moringas eram - e continuam sendo em muitos
locais -, de um valor inestimável, usadas pelos lavradores, para saciar a sede
com água sempre fresquinha.
Como vocês puderam ver, os conhecimentos sobre átomos, sobre
moléculas e seus comportamentos permitem entender e explicar muita coisa que
acontece ao nosso redor. Baseando-se neles foi possível ao Homem inventar, por
exemplo, os refrigeradores elétricos, que possibilitaram conservar melhor e com
mais facilidade, diversos tipos de alimentos. (Veja o vídeo no final deste
texto)
Em nome da praticidade e modernidade, muitas e muitas
famílias, principalmente de cidades de grande porte, abandonaram as moringas e
filtros de barro e passaram a usar, além das geladeiras, as máquinas de
filtrar, para ter água fresca e até bastante gelada. Com isso, introduzimos
duas mudanças, que talvez não sejam tão boas: bebemos a água geralmente gelada
demais para as condições do nosso corpo e gastamos muita energia elétrica para
obtê-la, porque os aparelhos ficam ligados diuturnamente e na maior parte do
tempo, não os acionamos para obter água .
Se você quiser saber mais sobre outras atividades do Clube de Ciências, acesse os links:
- Clube de Ciências Escola municipal "Dr. João Maria de Araújo Jr." - Botucatu
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