Dário da Serra - Botucatu
24 de agosto de 2013
Não há espaço
de educação ambiental em que não se discutam questões sobre as grandes
formações vegetais como a floresta Amazônica, o Cerrado, a Floresta Atlântica,
mata ciliar e animais a serem protegidos da extinção. E eu me pergunto
constantemente: Por que não tratar com o mesmo interesse e insistência a
desflorestada área urbana das cidades, que a cada dia acolhe e protege menos os
seus habitantes?
Das muitas
questões ambientais relativas a esses espaços há algumas que, de tão triviais e
desconsideradas em uma sociedade destituída de cidadania, passaram a fazer
parte da 'norma', apesar do desconforto e riscos que nos impingem.
Experimente
pensar em alguns trajetos que tenha feito a pé recentemente. Quantos deles
estão devidamente arborizados, com as plantas embelezando e refrescando os
espaços impermeabilizados com concreto e asfalto? Durante essas caminhadas, quantas
vezes você, automaticamente, precisou sair da calçada para caminhar pela rua ou
se desequilibrou e até caiu?
São buracos; desníveis
em passagens feitas para favorecer a entrada de automóveis em garagens; montes
de areia e pedras esperando pelo início ou conclusão de obras; carros esperando
por reparo em oficinas mal aparelhadas, ou esperando pelo morador que antes de
estacioná-lo corretamente opta por fechar o portão da residência; águas
pluviais e da limpeza de quintais escoando do alto ou da base de muros
diretamente sobre o transeunte; vendedores ambulantes; barracas de sanduíche e
inúmeras outras situações de desconforto e perigo.
Já repararam em
tapumes de obras, que muitas vezes são colocados no limite da sarjeta, bloqueando
a passagem do pedestre pela calçada?
Se uma pessoa
gozando de excelente condição física não consegue caminhar com tranqüilidade e
segurança por caçadas que deveriam ser planas, em um único nível e
desobstruídas, como se sente um idoso ou uma pessoa com deficiência passageira
ou permanente, tolhidos no direito básico, garantido pela constituição, de ir e
vir com segurança?
Não há mais normas
a seguir? Cada qual faz o que bem quer sem atenção aos demais munícipes? O
poder público fiscaliza como deveria?
E as coisas
não param por aí. Quantas vezes você se sentiu ameaçado por motoristas
deseducados e ignorantes, que imaginam saber dirigir porque têm uma habilitação
e que, não raro, desconhecem diversas leis de trânsito? Motoristas esses, que
em geral também são incapazes de estacionar com adequação e acabam por ocupar
mais do que uma vaga em estacionamentos de lojas e supermercados. Infelizmente,
são comportamentos hostis disseminados em todas as classes sociais. Comportamentos que independem de carro
importado, de roupas de marca e patrimônio invejável, mas, sim, de civilidade,
cultura, elegância.
Se quisermos recuperar
o nosso bem-estar e a nossa sanidade, deprimida devido a tantos desrespeitos e
agressões diários, se quisermos ter o prazer de caminhar por uma cidade aprazível
e acolhedora, temos de urgentemente aprender ou reaprender, o sentido do bem
comum e a arte de conviver. Incapazes de valorizar o espaço público e de olhar
para além de nós mesmos, estamos fadados ao desespero, aos confrontos
fortemente agressivos por motivos fúteis e aos estados de depressão, hoje
responsáveis por agendas médicas lotadas e bons faturamentos de laboratórios,
com a venda de antidepressivos.
Lucia Maria Paleari
Bióloga, Doutora em
Ecologia
Docente da UNESP –
Instituto de Biociências
Departamento de
Educação - Botucatu
lpaleari@ibb.unesp.br